terça-feira, 15 de setembro de 2009

Nando Reis e sua poesia cotidiana

Como alguns já sabem, eu não gosto de muita coisa na música nacional. Quer dizer, até gosto, mas consigo contar nos dedos das mãos o que eu realmente escuto. É claro que eu respeito muito artista brazuca, mas acompanhar mesmo... poucas coisas.

Nando Reis é, definitivamente, um artista brasileiro que me cativou logo de cara, quando saiu dos Titãs e começou a fazer suas melhores músicas. No seu novo trabalho, ‘Drês’, ele assume de vez o lugar que lhe é de direito: o do maior poeta do cotidiano do rock brasileiro. Eu digo cotidiano porque pra mim, Nando Reis tem o dom muito especial de conseguir transformar situações do dia a dia, da vida dele, coisas e problemas geralmente clichês no mundo todo - uma briga com a namorada, um amor perdido, uma relação problemática com um filho, a perda de alguém querido – em poesias lindas e sem soar chato, piegas ou repetitivo. Ele sempre consegue falar de amor, por exemplo, sob uma ótica diferente, de uma forma que eu ainda não tinha conseguido enxergar. E isso é muito difícil de se fazer.

O CD é todo bom, mas em alguns momentos ele se supera. Em ‘Ainda Não Passou’ (já bombando nas rádios), por exemplo, ele fala de separação de uma forma tão direta e verdadeira, que até dói... tipo “não tem remédio pra curar essa dor que ainda não passou, mas vai passar”. E não é?

O velho violão continua presente em quase todo o disco, com toques de teclados e solos muito bons, mas em ‘Drês’ – música título e a mais ‘pancada’ do disco – por exemplo, a introdução com a guitarra pesadona dá uma pegada bem roquenrou. Em ‘Livre Como Um Deus’, além de versos fantásticos como ‘erros e acertos são filhos do mesmo pai’, um riff de guitarra belíssimo na introdução também dá o tom do tal do rock.

Em ‘Baby, Eu Queria’, a balada romântica, como sempre - ‘prefiro chorar com a certeza de que essa paixão me fez um homem melhor’ - o clichê vira poesia das mais simples e completas. Adoro as baladinhas românticas de Nando Reis.

Me emocionei horrores quando ouvi ‘Só pra So’ – destaque pra introdução descarada que ele ‘guelou’ do George Harrison em ‘If Not For You’, de quem é fã, diga-se de passagem. Foi uma das músicas que mais mexeu comigo porque ele fez pra filha, Sofia, se desculpando por não ter sido um pai presente ao longo dos anos. Depois de ‘Espatódea’, feita pra Zoé, a caçula, essa é definitivamente uma das declarações mais lindas de pai pra filha que eu já ouvi.

Agora, pra mim, a música mais sensacional do disco é mesmo ‘Pra Você Guardei o Amor” (recomendo, viu? Baixem pelo menos essa), com a participação da queridinha do momento, Ana Cañas. Na verdade é um dueto todo na voz e violão, mas a letra é daquelas declarações de amor que faz você chorar só de ouvir. E o final meio ‘Hello Goodbye’, dos Beatles, é pra deixar qualquer fã doido...aliás, essa influência beatle que ele sempre carrega também me derruba logo. É linda mesmo! Vejam: http://www.youtube.com/watch?v=kpnoEdHKib0

Tem outros bons momentos também...’Conta’, onde ele lamenta a perda da mãe, ‘Diamante’, ‘Mosaico Abstrato’... mas as baladas criativas são, com certeza, o excelente resultado final desse disco, o maior exemplo de como fazer pop de qualidade, com letras inteligentes, arranjos fantásticos e que funciona muito bem ao vivo. Também ajuda muito o fato de que ele reuniu uma banda sensacional, com músicos excelentes, com uma química no palco que é impressionante. Dá pra ver no show o quanto que eles se divertem. Acho que essa é a chave, o segredo do sucesso de um dos poucos ótimos sons brasileiros que ainda circulam por aí. Siga em frente, Nando!

Um comentário:

Andre Dantas disse...

Nando Reis é um grande poeta e um grande músico. Com certeza um dos poucos que conseguiram evoluir dos anos 80 e fazer, hoje, músicas melhores que antes.

Sou fã dele .. e seu fã também!! :)
Ótimo texto .. devia tá na versão on-line da Rolling Stone!